es tan hermosa!
I
Era mais facil a vaga
nos embates suspender,
do que essa bocca de maga
vir fallar-me de prazer...
Era mais facil nos ares
ás nuvens um élo pôr,
do que vêr nos teus olhares
um relampago de amor...
Era mais facil ao vento
suffocar-lhe a rija voz,
do que vir-te um pensamento
que senão rasgue feroz...
II
E mais facil era unir-se
o vento, a nuvem e o mar,
do que este meu peito abrir-se
p'ra o teu amor expulsar.
Oh! quem fôra o lume bello
desse teu olhar profundo!
- dava mais um sol ao mundo;
via o mundo a estremecêl-o.
Quem fôra o labio sedento
dessa boca de desejos!
- tinha p'r'á sêde os meus beijos,
por favonio o teu alento.
Oh! quem fôra as loiras comas
que dessa fronte deslizas!
- era beijado das brizas,
e beijava as tuas pomas.
E... quem fôra essa alma fria
que se encolhe no teu peito?
- era do odio um mar desfeito,
e só raivas attrahia.
III
Gosto de vêr o mar, porque te tenho
o mais férvido amor:
ninguem póde abaixar-lhe o sobrecenho,
ninguem o teu furor.
Amo tambem o ceu, o ceu immenso,
que, se estala o trovão,
parece repetir um grito extenso
do teu mau coração.
O céu e o mar...o grande livro infindo
que não sabe ninguem;
- indecifravel thema em gesto lindo,
assim tu és tambem.
IV
- Se lagrimas fossem perolas
era bem rica a mulher...
- Quem havia de comprar-vol-as?
Joias falsas ninguem quer.
V
Fazes bem em dar no seio
à camelia o throno raro,
p'ra mstrar que ainda é mais claro
esse marmore sem veio.
Fazes bem em coroar-te
d'esse diadema de oiro,
p'ra mostrar maior tezoiro
no teu cabello sem arte.
E, também, se tu pudesses
o coração tirar fóra,
co'a tenue mão sedutora
que em meio me corta as preces,
devias de pôr-lhe ao lado
assanha de uma pantera,
p'r'o mundo vêr que inda era
o coração mais damnado.
VI
Deixastel-o por mim, por outro deixas-me,
e inda mais corações as tuas plantas
hão de esmagar sem dó! Das do teu sexo
tu és o Don Juan, falso e voluvel.
Ao menos tenho esp'ranças que ha de um dia
do nau Commendador surgir-te a Estatua,
vingar de uma só vez tantas affrontas.
VII
Quando o Grego pôz termo á bella estatua,
- cuja copia tu és, mais alta e viva,-
delirante de amor tirou do peito:
"-Oh! falla, sílfide!!"
Ao lançar-te do empireo o Grande Artifice
para assombro do mundo, e meu tormento,
porque não te imperára majestoso:
"- Cala-te, vibora!?"
VIII
Vinte mezes levou a erguer-se a fabrica
do nosso amor...
- estoira uma babel de zelos dubios
e n'um só dia cái com estridor.
Resta-me ao menos o consolo unico,
louco talvez,
de vêr que a minha parte era a mais solida,
e que a sua logo em fumo se desfez.
in AMORES (1902)
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Infelizmente não dispomos de dados sobre o autor, supomos que o seu nome completo seria José Diogo Souto e que vivesse na cidade do Porto.
Caso nos possam ajudar com elementos sobre a sua obra e vida muito agradeciamos.
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