Eis que morrestes - agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
- O olhar não atravessa esta distância -
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil
Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.
E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e de meu canto.
Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto (1985)
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Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto a 6 de Novembro de 1919 e faleceu em Lisboa no dia 2 de Julho de 2004.
É no Porto mais precisamente na Praia da Granja que passou a sua infância e juventude.
Frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, não chegando a terminar o curso.
Foi mulher do jornalista Francisco Sousa Tavares de quem teve cinco filhos, talvez por isso a razão de escrever contos infantis.
Motivos concretos e símbolos excepcionais para cantar o amor e o trágico da vida foi-os buscar ao mar e aos pinhais que contemplava na Praia da Granja; com a sua formação helenística, encontrou evocações do passado para sugerir transformações do futuro; pela sua constante atenção aos problemas do homem e do mundo, criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia da injustiça e da opressão.
De entre vários prémios obtidos salientamos o Prémio Camões com que foi agraciada em 1999.
Obras poéticas:
Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral, (1950), No Tempo Dividido, (1954), Mar Novo (1958), Livro Sexto (1962) Geografia (1967), Dual (1972), Nome das Coisas (1977), Musa (1994), etc. Obras narrativas: O Cavaleiro da Dinamarca, Contos Exemplares, Histórias da Terra e do Mar, A Floresta, A Menina do Mar, O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana, etc
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