Ao lampejar da tua espada,
- Nuno sem Mestre de Aviz,
Rufam marchas de alvorada
Os corações juvenis!
É que ela enfim representa,
Neste transe derradeiro,
A jovem noiva sangrenta
Do orgulho de um povo inteiro!
Um simples bocado d'aço,
A dardejar em tua mão,
Na noite negra do espaço
Fez uma constelação.
D'entre as espadas formosas
Nenhuma tão viva e bela!
Moças, atirai-lhe rosas!
Mães, pedi ao céu por ela!
Sonho essa espada guerreira,
Em brasa, sôbre um altar,
Entre festões d'amendoeira
E vozes d'oiro a cantar...
Na folha febricitante
Arde um épico esplendor
De heroísmo augusto e radiante,
Irmão da Morte e do Amor!...
Venham adorá-la e vê-la,
Como um filho adora um pai!...
Na ponta luz-lhe uma estrela...
Ó aves do azul, gorjeai!...
Gorjeai-lhe uma ladaínha
Celeste, um cântico esparso,
Como sôbre o trigo e a vinha
Gorjeais nas manhãs de Março!
Vencida embora, que importa!
Cravem-na rubra, auroreai,
Na tumba da Pátria morta,
-Vermelha cruz imortal!
Ah, um ferro que assassina
Tem para nós tanto encanto,
Como uma palma divina
Nos dedos magros dum santo!
Sôbre os seus igneos lampejos,
Como sôbre as verdes palmas,
Volitam canções de beijos,
Murmúrios sidéreos d'almas...
É que uma espada bem fria
Faz-nos chorar e ajoelhar,
Quer no peito de Maria,
Quer nas mãos de Joana d'Arc!...
Guerra Junqueiro, in POESIAS DISPERSAS (1926) 2ª Ediçãowww.bibliothequeduvalais.blogspot.com tem 1 exemplar de POESIAS DISPERSAS Guerra Junqueiro, 2ª Edição (20 €). Para o adquirir ou saber mais sobre a obra, mencione a intenção em comentários.
Abílio de Guerra Junqueiro (1850-1923) nasceu em Freixo de Espada à Cinta, formando-se em Direito na Universidade de Coimbra.
Foi funcionário público e deputado, aderindo em 1891, com o Ultimatum inglês, aos ideais republicanos.
Influenciado por Baudelaire, Proudhon, Victor Hugo e Michelet, iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa.
Retirou-se para uma quinta no Douro, regressando à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna.
Obras:
A Morte de D. João (1874)
A Musa em Férias (1879)
A Velhice do Padre Eterno (1885)
Finis Patriae (1890)
Os Simples (1892)
Pátria (1896)
Oração ao Pão (1903)
Oração à Luz (1904)Poesias Dispersas (1920)
Em colaboração com Guilherme de Azevedo, escreveu Viagem à Roda da Parvónia
in Projeto Vercial.
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