Os Nossos Amigos

Etiquetas

A VOAR NA POESIA (5) A) (6) Alessandra Brander (7) Alvaro Sertano (3) Ana Stoppa (25) Anderson Gouvêa (18) Antonio Anjes (11) Antonio Carlos Gomes (39) António Patrício (6) AQUELE POEMA (Gerlane Fernandes) (18) ARTE (6) AUTORES NA ANTOLOGIA VOAR NA POESIA (339) Barbara Nunes Guarany Kaiowá (46) Bosco da Cruz (10) Bruno Junger Mafra (22) CARD DA SEMANA (447) Carlos Lobato (9) Carlos Manuel Alves Margarido (48) Carmem Teresa Elias (5) Céu Pina (34) Claudemir Geronazzo Mena (21) Claudia Salles (11) Cleody Virgínia Silveira (1) Conceição Oliveira (9) CONCURSOS DE POESIA (1) Cris Anvago (19) Cyda Lyra (26) DECLAMAÇÕES-canções-etc. (12) Denise Alves de Paula (50) Dennys Távora (5) DESGARRADA POÉTICA (4) Dilma de Caboclo (12) Dulce Morais (18) Edleuza Nogueira Fonseca (18) Edson Moreira Costa (7) Elian Vieira Silva (13) Enide Santos (67) Eugenia Silveira (5) Fátima Abreu (Fatuquinha) (5) Felipe Rey Rey (12) FELIZ NATAL (46) Fernando Figueirinhas Nana (Naná) (21) FILHOS de Amigos (15) Flávia Marques (5) Flávio Castorino [FlaVcast] (3) FORMATAR (262) Francis Raposo Ferreira (10) Francisco Costa (46) Francisco Settineri (6) Freddy Diblu (13) Geane Masago (78) Gilberto de Almeida (2) Gilberto Wallace Battilana (6) Guria da Poesia Gaúcha (4) HAIKU - HAIKAI pela IMAGEM (6) Imara Ione Vieira (64) Irá Rodrigues (45) Isabel Lucas Simões (9) Jair Francisco da S. Junior (4) Jair Lisboa (7) Janaina Cruz (9) João Raimundo Gonçalves (jrg) (7) Joaquim Barbosa (14) Jonas R. Sanches (25) José Alberto Sá (13) José Carlos Moutinho (3) José Manuel Cabrita Neves (47) Jussara Marinho (18) Kondor My (3) Laisa Ricestoker (43) Leny Mell (41) Leyla Denyse (27) Lilian Reis (12) LIVROS DE POESIA (ALFARRABISMO) (62) Lúcia Polonio (31) Luciana Saldanha Lima (14) Luly Diniz (3) Magda Lopez (27) Marah Mends (4) Mari Alves (51) Maria C. Batista (83) Maria Elisa Ribeiro (24) Maria Helena (12) Mary Rosa (33) Menções Honrosas (339) Miriam Lorente Rodrigues (13) Moacir (23) Neidinha Borges (26) OFICINAS-WORKSHOPS-ETC. (1) Oswaldo Genofre (7) Paula Lourenço (6) Paulo Henriques Frias (7) Paulo Ras (4) POEMA DA SEMANA (68) POEMA TEMÁTICO (20) POESIA (1061) POESIA PARA CRIANÇAS - GRUPO (22) POETA DA SEMANA (4) POETAR (204) PRÉMIO VOAR NA POESIA. (33) Profª Fatuca Silva (8) QUEM É? (37) Rafael Silvestre (6) Renata Bicca (4) Rita Pinho (59) RÓ MAR (54) Rosa Ralo (7) Rosane Ramos (3) Rosiane Ceolin (6) Rudi Ceu (4) San Art's (15) Sérgio Lizardo (9) Silvia Dunley (2) Silvia Regina Costa Lima (4) Sol da noite (45) Sol Figueiredo (13) Solange Moreira de Souza (28) Sulamita Ferreira Teixeira (15) Teresinha Oliveira (Terê Oliva) (54) Valdecir de Oliveira Anselmo (35) Valter José Guerreiro (7) Vitor Moreira (14) VOAR NA POESIA - Aniversários (4) Vrs Palegre (19) Wilma Langer (26) Zé Loureiro (9)

Desde 17 de Agosto 2012

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O PERDÃO - Catullo CEARENSE


João Carreiro era um carreiro
proprietario de um carro
e de uma junta de bois.
Com a dona Chica Constança,
com quem se casou depois,
recebeu-os como herança
do fallecido Ramalho,
seu padrinho e seu avô.
("Avô? Mas de quem?"
Já estou contando na certa
com a tua interrogoção!)

A penna não se explicou.

Mas tudo fica explicado
n'uma breve explicação:--
o velho, o avô fallecido,
era o da moça!... (Percebe ?
Não era avô do João!)

O velho que já sabia
que o rapaz gostava della,
e ella, --do rapagão,
         não tendo mais que deixar,
         morrendo, deixou-lhe a neta
         e mais os bois e o carrão.

A Constança, com franqueza,
a neta do Zé Ramalho,
não era a flor da belleza,
mas era a flor do trabalho.
Todo o thesouro, a fortuna,
todo o bem do João Carreiro,
desse homem trabalhador,
todo o affecto, o seu amor,
todo o seu grande ideal,
          era a Constança, o seu carro,
          a bella junta de bois
que estava lá no curral,
          e o seu templo-- a sua choça,
          a casa mais conhecida
          de toda a gente da roça.

Dizem mesmo algumas boccas
que o nosso bello carreiro
foi um tanto interesseiro,
pelo carro e pelos bois...
          -- Mas não amava a Constança?!

          -- Amava... Mas todos dizem
que o amor veio depois.

Quem visse aquelles carinhos
com que tratava o seu gado
ficava desconfiado!

Os bois não eram creanças,
mas também não eram velhos,
pois quando inchavam nas pernas,
para fazerem apárro,
e arrancavam do lameiro
as duas rodas do carro,
com os nervos dos seus pescoços...
            eram bem moços...bem moços!...

Um chamava-se Laranjo
e botal-o no varão,
era um trabalho estupendo,
eram horas de canceiras;
pois quando o boi presentia
que o dono vinha agarral-o,
corria como um cavallo,
pelas mattas e capoeiras.

Ao passo que o Beija-Flor,
carinhoso, terno e leal,
bastava ouvir o seu grito,
accorria logo afflicto,
para encostar-se ao varal.

Emquanto para o Laranjo
fazer uma simples coisa
era preciso que o dono
se esfalfasse de gritar,
         o Beija, sempre fagueiro,
         obedecia ao carreiro
         por um simplissimo olhar.

Tudo o que o dono dizia,
gesticulando ou falando,
o Beija-Flor entendia.

Quando a carroça cahia
n'um caldeirão do caminho,
o Beija-Flor já sabia
o que tinha de fazer,
sem auxilio do ferrão.
         E quando o outro fingia
         que estava fazendo força
         para arrancar a carroça
         de dentro do caldeirão,
         n'um gemido que soltava,
         parece que assim falava:
         "O Laranjo está fingindo!

         "Não está puxando, nhôr, não!

Então o cabra levava
tanta varada e ferrão,
que o sangue logo espirrava,
a ensanguentar todo o chão.

Á noite daquelle dia,
o Laranjo recebia
metade só da ração.
E ainda mais: por pirraça,
na noite daquelle dia,
o Beija-Flor só comia
o raro capim mimoso,
que é o novinho e o mais gostoso!

Mas o boi não se emendava,
porque gostava da turra!
Já tinha o ventre lanhado
e o pescoço encalombado
de chupitar tanta surra!

De uma feita, n'uma luta,
n'um combate desastrado,
O Laranjo ia matando
o pobre Beija!...  Que horror!!

         O diabo tinha ciume
         té mesmo do Beija-Flor!!

Foi um combate horroroso!...
Foi um prelio desigual!...

         Em menos de dois minutos,
         era uma vez um curral!

João, que estava sesteando
lá dentro, em sua tapêra,
ouvindo aquelles gemidos,
veio saber o que era.
Ao ver os dois animaes
com os chifres emmaranhados,
como dois allucinados,
ferozmente ensanguentados,
e vendo que o Beija-Flor
não lhe levava vantagem,
e já ia, pouco a pouco,
arrefecendo a coragem...
        ficou tão doido, tão louco,
        que dando um murro tremendo
        no vazio do rival,
        recebeu, como resposta,
        do Laranjo, renegado
        uma chifrada fatal!!

O golpe foi tão violento
que o homem titubeou,
e, como se fosse um morto,
quasi morto alli ficou.

Quando, mais tarde, a mulher
deu alli com o seu marido,
com a rigidez de um cadaver,
naquelle chão estendido,
          n'um berreiro abriu a bocca,
          e lá foi dona Constança,
          correndo como uma louca,
          em altos gritos afflictos,
          alarmando a visinhança!

Foi, sem exageração,
          qual se tivesse explodido
          a cratera de um vulcão!

Pois tanta gente sahia
de toda a parte a gritar,
que até parece que o mundo,
n'um incendio pavoroso,
ia de vez se acabar!

Nos braços dos seus amigos,
           n'um abrir e fechar de olhos,
           João Carreiro, inanimado,
           foi p'ra casa carregado,
           emquanto foram chamar
           a toda a pressa o doutor,
           o medico do lugar.

Em menos de dez minutos,
já se via a tigelinha
a brivana do doutor,
muito bem arreadinha,
na porta do victimado
pataleando, a rinchar.
            ouvia-se o palpitar
            de todos os corações,
            quando o doutor se acercou
            do leito do moribundo!
            E quando, depois do exame,
            n'um sorriso commovido,
            disse aos intimos: "Perdido",
            foi um silencio profundo!!

O doutor se retirando,
e dando na brivaninha
um pequeníssimo açoite,
proferiu esta sentença: --
"Não passará desta noite!"

Desde o instante da chifrada,
o pobre do João Carreiro
tinha perdido o sentido!!

Tinha a palavra perdido!!...

Mas, ás tres horas da tarde,
indo-lhe alguem perguntar
se, antes do seu trespasse,
queria que se matasse
o boi, que já estava prêzo
no ranchão lá do curral,
recuperando os sentidos
em voz baixinha falando,
disse, quasi soluçando:
            "Deixem viver o animal!...

            "Matal-o?! Matal-o?! Não!!

            "É preciso que elle viva,
            "para poder perdoar
            "toda a minha ingratidão!

"Se eu quizesse me vingar
"dos coices e ponta-pés
"dos homens, desses crueis,
"que escoucearam minh'alma,
"talvez por muito os amar...
             " tinha muito que matar!!

"Entre o grande racional
"e o pobre desse animal,
"qual foi mais atroz? Qual foi?!

"Amigos!... Se eu fosse boi..."
Ia dizer outra coisa,
mas já não poude falar!

A tarde se despedia!

A torre da Capelinha
que em sua triste alegria
ao pé do monte floria,
             sonorizava no bronze
as seis lagrimas choradas
             na hora da Ave-Maria!!

Lá, no fundo do curral,
como longinquo trovão,
veio um profundo mugido
ou no perdão de um conforto!

             O que seria?!   O Perdão?!

             Quem sabe ?!

                        Só Deos e o morto!!!

Catullo Cearense
in POEMAS BRAVIOS (1928)

www.bibliothequeduvalais.blogspot.com tem um exemplar disponível de POEMAS BRAVIOS (1928) (15€). Para adquirir ou saber mais sobre a obra, mencione a intenção em comentários.










Catulo da Paixão Cearense (São Luís do Maranhão, 8 de outubro de 1863 — Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946) foi um poeta, músico e compositor brasileiro. A data de nascimento foi por muito tempo considerada dia 31 de janeiro de 1866, pois a data original foi modificada para que Catullo pudesse ser nomeado ao serviço público.
Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão)
Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmicos da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modismo da época.
Catulo da Paixão Cearense passou a organizar coletâneas, entre elas O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza.
Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Como interprete, o maior tenor do Brasil, Vicente Celestino .
Suas mais famosas composições são Luar do Sertão (em parceria com João Pernambuco), de 1914, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e a letra para Flor amorosa, que havia sido composta por Joaquim Calado em 1867. Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da ´modinha´.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário