Prefaciado pelo poeta
Xavier Zarco LABIRINTO DE PALAVRAS é uma obra poética que se encontra dividida
em três ciclos não completamente fechados: CATARSES -DAS SAUDADES … DOS AFECTOS
- MOMENTOS E ESPAÇOS.
O título traz-nos,
desde logo, uma ideia dual, um desígnio que a palavra em nós desperta: o
Labirinto de Creta (onde existiu, segundo a mitologia clássica, um Minotauro
sanguinário…e o estratagema de Ariadne para que o seu amado Teseu pudesse
regressar, caso escapasse ileso do confronto com o monstro, um simples fio que
o guiasse na saída…por outro lado, e, ainda, sob a égide da mitologia grega,
podemos relembrar as personagens de Dédalo, o arquitecto e seu filho Ícaro,
sendo este último, inclusive, referido no poema intitulado, justamente, ”Labirintos”).
Há ainda outras
referências clássicas nos poemas “Em busca de Cnossos” e “Mar de Creta”.
O labirinto, então,
como caminho inçado de paredes intransponíveis obrigando-nos a voltar atrás
repetidamente, desorientando-nos e perdendo-nos. Metáfora perfeita, quase
obrigatória, para a complexidade e as aporias da vida que frequentemente nos
oferece, a par das alegrias e prazeres, sofrimentos incompreensíveis.
Insuportáveis por vezes.
O pensamento e o sentir
como labirinto onde nos podemos enredar, porque muitas das questões sobre a
existência, a vida e a morte conduzem a becos sem saída, a mistérios paredes
contra os quais não temos defesa. A ansiedade, a angústia e o sofrimento
psicológico estão sempre no caminho deste “LABIRINTO”.
Os medos e as revoltas
fazem-se sentir não só através de um Eu lírico mas também incidindo sobre
preocupações alargadas aos males sociais, ao sofrimento alheio. (“Meninos de
Rua”; “Aos Meninos do Silêncio”; “Campos vazios”; “Pássaros do vazio”;)
Podemos constatar ainda
que existem nesta obra “laivos ideológicos” (“Cecília Sacramento”; “Catarina
Eufémia”; “25 de Abril”; “1º de Maio”; “Este é o tempo”) entre outros.
Se por um lado se sente
uma necessidade de exteriorizar a memória, dizendo-a através da palavra
poética, organizando assim a matéria: sombras, escombros, ruídos, imagens…, num
autêntico labirinto, por outro vai-se criando a precisão do voo, o sair dessa
mesma criação.
Este movimento de saída
está bem patente no ciclo com que a obra finaliza: “Momentos e espaços”
tentando dizer que, ainda que partindo, esse instante é sempre um ponto onde
urge regressar. A memória vai-se fazendo, reorganizando, assumindo-se como
pedra basilar dos poemas. É pois uma construção de memória, em tempo real, psicológico
ou fictício, da própria poetisa ou da sua imaginação. Tanto faz a quem lê. Não
carece dessa informação, antes precisa de entrar por entre as palavras e
descobrir essas pedras que ergueram o LABIRINTO onde as asas se escondem…
Conceição Oliveira
LABIRINTOS
Soprava o vento
Era o Sul
Agreste, sibilante
Tempestade vacilante
Mau tempo anunciava …
Acesa a discussão
Mergulhámos
Em ruas de podridão
E perdemo-nos…
No vazio
Dos labirintos
De Ícaro
Iniciámos o caminho
Da solidão
A sombra
De paixões acontecidas,
Na volúpia do passado
Reciclámos.
E foi Assim, que,
Nos labirintos
Da saudade
De carícias esquecidas
E do amor cruzado
Voltámos...
Conceição
Oliveira in “LABIRINTO DE PALAVRAS”
AMANHECER
NA DISCÓRDIA…
Sempre que
amanhece
Em tempos
de discórdia
A luz
incerta do dia
Reactiva as
dores da véspera
Folheando
as palavras
Esquecidas
Na diáspora
Proferidas
Num
lamento,
A manhã
Apodera-se
dos meus ais
E toma o
teu lugar
Os sorrisos
Que
fertilizavam a memória
Na
ferocidade do tempo
À passagem
dos vampiros
Embalam-me
o pensamento
E a manhã
assimila
E comove-se
Do meu
lamento.
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