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quarta-feira, 24 de abril de 2013

NAU CATRINETA - Almeida GARRETT (1843) versus NAU CATARINETA - Maria Peregrina de SOUSA (1856)






NAU CATRINETA

Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.
- “Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal!”
- “Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.”
- “Acima, acima, gageiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal!”
- “Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!”
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar.”
- “Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.”
- “A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.”
- “Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.”
- “Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar.”
- “Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.”
- “Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.”
- “Dar-te-ei a Catrineta,
Para nela navegar.”
- “Não quero a Nau Catrineta,
Que a não sei governar.”
- “Que queres tu, meu gageiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?”
- “Capitão, quero a tua alma,
Para comigo a levar!”
- “Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar.”
Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a Nau Catrineta
Estava em terra a varar.

(Almeida Garrett, Romanceiro) (1843)





NAU CATARINETA

Desta nau Catarineta
Dela vos quero contar:
Anos sete e mais um dia
Sempre na volta do mar;
Já não tinham que beber,
Já não tinham que manjar;
Solas puseram de molho,
Para esse dia jantar;
Mas as solas eram rijas,
Não as puderam rilhar,
Botaram sortes a todos
Qual se havia de matar,
Logo a sorte foi cair
No capitão dom Gaspar.

Capitão:

Acima, gajeiro, acima...
Àquele topo real,
Mira se enxergas Espanha,
Ou terras de Portugal.

Diabo:

Não vejo terras de Espanha
Nem areias de Portugal;
Vejo só espadas nuas
Para matar-te sem al.

Capitão:

Acima, gajeiro, acima...
Àquele mastro real.
Mira: Vês terras de França
Ou praias de Portugal?

Diabo:

Já vejo terras ao longe
E praias de Portugal;
Mais enxergo três meninas
A folgar num laranjal.

Capitão:

Filhas minhas elas são;
Oh! quem mas dera abraçar!
Se numa lancha, ligeira,
À terra me vais levar,
Com a mais formosa delas
Prometo de te casar.

Diabo:

Eu não quero a filha tua
Que te custou a criar.

Capitão:

Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.

Diabo:

O teu dinheiro não quero,
Que te custou a ganhar.

Capitão:

Cavalo branco te dera
Em que pudesses campar,
Ou a nau Catarineta
Para correres ao mar.

Diabo:

Não quero cavalo branco...
Não gosto de cavalgar;
Nem a nau Catarineta...
Leve a breca o navegar!
Só prender a tua alma quero
Para comigo a levar.

Capitão:

Arrenego-te, diabo,
E a tua palavra ousada!...
A minha alma é só de Deus
O corpo d'água salgada.

__________________

Estoira e foje o diabo.
Quando viu a cruz da espada.
Breve a nau Catarineta
Chega à terra desejada.


Maria Peregrina de Sousa (1856)
in PÁGINAS DESTE MUNDO-CASTRO Faria (1954)


O famoso poema “Nau Catrineta”, de Almeida Garrett, é uma lenda por si recolhida, própria de um país de marinheiros, virado ao mar e ao mundo, como a do Adamastor, dos monstros marinhos e tantas outras. A segunda versão melhorada e acrescentada por Maria Peregrina de Sousa éra à época uma cantiga popular que apresenta uma assaz e pitoresca versão, construindo animado interlóquio entre o capitão da nau e o Diabo na figura de gajeiro.
Do original fazemos a seguinte sinopse:
Consta que relata a história da viagem da nau portuguesa que transportou Jorge de Albuquerque Coelho de Olinda para Lisboa, em 1565, o qual a contava, já idoso, sentado de frente para o mar, junto dos amigos.
Perante a desventura da nau perdida no mar alto há já um ano, esgotadas as provisões e sem nada mais para a tripulação comer, foi justamente ao capitão general que veio a calhar uma triste sorte:
“Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.”
A sorte do sacrifício tinha caído sobre ele, como confirmou a visão do marujinho:
- “Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.”
O protagonista prometeu então recompensas sucessivas ao marinheiro, subindo sempre a parada, de forma a evitar a sua morte sacrificial.
Começou pela filha, a mais formosa. Tinha outras duas e não lhe custava muito ceder uma delas, mesmo sendo a mais formosa, mas não resultou.
Depois subiu a parada e prometeu muito dinheiro, dinheiro sem conta. Mais difícil, mas ainda assim, a sua vida valia todo o dinheiro do mundo. Esta proposta também falhou.
Mais tarde é a vez de prometer o seu cavalo favorito, um animal inigualável. Algo de muito pessoal que lhe terá custado imenso prometer, mas tornava-se necessário de modo a evitar a morte. Nada feito.
Por fim, e já em desespero de causa, prometeu a própria nau, bem supremo de um marinheiro. E ainda assim nada conseguiu.
Repare-se que esta escala de valores tem muito que se lhe diga. Se a lermos ao contrário, o bem mais preciosos de todos, aos olhos do capitão general, seria a nau, depois o cavalo branco, a seguir as riquezas, e só depois a filha mais formosa. A parada foi sempre subindo até ao clímax da oferta da nau, bem mais precioso de um homem do mar.
O protagonista, prestes a cair na tentação do demónio, que então se lhe revela, de súbito, exigindo-lhe a alma como recompensa (depois de ter visto recusadas todas as ofertas), decidiu renegá-lo e lançar-se ao mar, entregando a alma a Deus:
- “Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar.”
O simples acto de renegar o demónio constituiu a chave para a sua divina salvação. Foi essa atitude que fez vir um anjo do céu, para o salvar do suicídio a que se dispusera a fim de fugir à tentação diabólica, num segundo momento (tal como da canibalização, num primeiro momento) no afã de preservar a alma para Deus.
Como se vê, trata-se de uma lenda gizada bem ao estilo da superstição religiosa da época.
Como todos os contos de encantar, este também teve um final feliz:
“E à noite a Nau Catrineta
Estava em terra a varar.”


Sousa (D. Maria Peregrina de).

n. 13 de Fevereiro de 1809.
f. 1868



Escritora, romancista e poetisa.

N. no Porto a 13 de Fevereiro de 1809 e falecida em 1868, sendo filha do comerciante António Ventura de Azevedo e Sousa, e de D. Maria Margarida de Sousa Neves.

Foi muito conhecida e considerada romancista e poetisa, mas as suas numerosas composições, que lhe granjearam repetidas aplausos e louvores de juízes autorizados, existem disseminadas em vários jornais literários e políticos, que desde 1842 começaram a tê-la a por colaboradora, tais como o Archivo popular, Restauração da Carta, Revista Universal Lisbonense, Iris, do Rio de Janeiro; Aurora, Pirata, Braz Tisana, Lidador, Pobres do Porto, etc. Alguns dos romances publicados nessas folhas, têm a assinatura de Uma obscura portuense, outros a de Mariposa, muitos com o nome completo, ou com as iniciais D. M. P. Em publicação separada, em 1859: Retalho do mundo, romance dedicado a António Feliciano de Castilho, o qual se compõe de 58 capítulos, que são os desenvolvimentos de outros tantos rifões, adágios e anexins populares, que lhe servem de títulos.  Na Revista Universal saiu as Superstições do Minho, de que se tentou fazer uma colecção separada, com uma introdução ou advertência preliminar pelo referido poeta Castilho, mas ficou interrompida logo na 1.ª folha, por causa das lutas politicas de 1846, e nunca mais continuou. Publicou em 1863, em Lisboa, o romance Rhadamanto ou a mana do conde; seguido do Roberto ou a força da sympathia; esta edição foi feita a expensas da sociedade Madrépora, do Rio de Janeiro, que estava então florescente e se destinava a proteger as publicações literárias e os escritores portugueses. Escreveu também algumas notas para a versão dos Fastos de Ovídio por A. F. de Castilho, nos tomos I, II e III. Na Gazeta de Portugal, de 1843, uma narrativa sob o título Um romance de Thomaz da Gandara. Na Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, tomo III, Setembro, de pág. 273 a 312, vem publicada uma biografia desta ilustre escritora e poetisa, escrita pelo já citado escritor e poeta António Feliciano de Castilho. Notavél e muito apreciada na época a sua versão da Nau Catrineta de Almeida Garrett, por si melhorada e adaptada ao cariz popular.
 
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