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quinta-feira, 4 de abril de 2013

MONÓLOGO DUMA ACTRIZ - IEVTUCHENKO (1967)


Diz a actriz: Parece que a velha Tróia foi destruída!
Já não há papéis,
não há papeis daqueles que viravam a minha alma
                                do avesso,
que me esgotavam de vez as lágrimas.
Estou farta desta vida, vou fugir para o campo.

Não há papéis que prestem.
Afogamo-nos no sempapelismo.
Maldita seja a união dos não escritores,
                                                      não os Escritores.
Os clássicos estão encharcados como um piquete
                                                               de bombeiros.
Pois não sabiam eles de Hiroxima,
da guerra de Espanha, do ano de 1937
na Rússia, de todas as nossas dores?
Não me digam que isto era impossivel de contar...

Já não há papéis que prestem.
E sem bons papéis ficamos sem bússola:
tu sabes como o Universo é pavoroso.
Quando qualquer coisa desliza pelo céu
não haverá saída para essa coisa?

Faz favor, dá-me um bilhete para a estreia.
Faz favor, dá-me o meu bem estar.
E papéis para a esquerda,
papéis para a direita...
Eu bebo,
bebo sem vontade, é certo.
Mas que querem que faça
quando não há gente, não há papéis que prestem?

Bebe onde estiveres, trabalhador,
e com que copo - não sei.
Não há papéis que prestem.

Chora, harmónio, em qualquer margem
                                                  do grande Volga.
Não há papéis que prestem.
E e Fátima camponeses beijam Nossa Senhora.
                                                   Madona de pedra e dor.
Não há papeis e prestem.

Era um moço de dezasseis anos
e bateram nele como se fosse um bombo.
Não há papéis que prestem.

Ninguém fala das mortes atrozes,
                               mas alguém grita para o juiz.
                               Onde? No futebol!

Não há papéis que prestem.
E sem bons papéis a vida é podridão, mais nada.

Todos nós somos génios no ventre materno,
mas muitos génios possiveis morreram
à falta de bons papéis.
Eu não exijo o sangue de ninguém -
exijo um papel que preste!

Ievtuchenko in IEVTUCHENKO em LISBOA (1967)

www.bibliothequeduvalais.blogspot.com tem IEVTUCHENKO em LISBOA (1967) disponivel (15€). Para adquirir ou saber mais sobre a obra mencione essa intenção em comentários.


Yevgeny Aleksandrovich Yevtushenko  (em russo: Евге́ний Алекса́ндрович Евтуше́нко, nasceu em Zima, oblast d'Irkoutsk, Russia a 18 de julho de 1933) é um poeta russo que para além da poesia, se distinguiu como actor e realizador de cinema.
É o representane emblemático da geração do degelo intelectual surgido após a morte de Estaline, foi também uma das primeiras vozes humanistas a levantar-se na ex União Soviéticade pela liberdade de opinião. .
Escreveu, entre outros, os poemas Stantsiia Zima (Estação Zima, 1956) e Mamãe e a bomba atômica (1984), em que expressa as suas convicções pacifistas.

2 comentários:

  1. Olá!

    Parabéns pelo Blog!

    Se puder, visite o meu:

    www.giovanipasini.com.

    Já sou seu seguidor...

    Att.

    ResponderEliminar
  2. Seu blog é óptimo, lindas poesias,e a maneira como usa as palavras é óptimo, não sou poeta mas gosto de uma boa poesia, e aqui pode encontrar boas poesias, gostei dou-lhe meus parabéns.
    Com votos de grandes vitórias.
    PS. Se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, esteja à vontade, decerto que irei retribuir seguindo seu blog também.
    Sou António Batalha, do Peregrino e servo.

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