I
Como o assunto me tocar,
Falo de riso ou de mágoa.
Canta o melro no pomar,
Nas fontes soluça a água.
II
Lágrimas são irmazinhas,
Sempre andam duas a duas.
Quando as tu choras, as minhas
Vão logo beijar as tuas.
(...)
XXXVIII
Porque fui dançar na boda,
Em que foi qu te ofendi?
Andei sempre á roda, á roda,
- Mas sempre á roda de ti...
(...)
LXIX
Sou como a cruz da capela,
Sempre altaneira e patente.
Tu és como a sombra dela
Que muda continuamente...
(...)
XCV
As vitórias dêste mundo
Lembram-me as águas do mar;
Cai lá oiro, vai ao fundo,
E um cepo fica a boiar...
(...)
C
Cem cantigas te compus.
Teem riso e teem mágoa,
Riso dum feixe de luz
A alegrar lágrimas de água...
Augusto Gil
in O CRAVEIRO DA JANELA-Augusto Gil (1920)
www.bibliotequeduvalais.blogspot.com tem 1 exemplar disponivel, (20 €). Para o adquirir ou sabe rmais sobre a obra, utilize a opção "comentários", para o efeito.
Augusto César Ferreira Gil (1873-1929) nasceu em Lordelo do Ouro, freguesia ribeirinha da cidade do Porto, e faleceu na Guarda.
Estudou inicialmente na Guarda, donde os pais eram oriundos, cidade esta onde viveu a maior parte da sua vida, tendo aí colaborado e dirigido alguns jornais locais.
Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde conheceu Alexandre Braga, Fausto Guedes e Teixeira de Pascoais.
Começou a exercer advocacia em Lisboa, tornando-se mais tarde director-geral das Belas-Artes.
Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo.
Influenciado por Guerra Junqueiro, João de Deus e pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica nacionalista.
Composta de uma poesia simples, a sua obra foi adaptada pelo povo que ainda hoje o canta em variados fados.
Obras poéticas: Musa Cérula (1894), Versos (1898), Luar de Janeiro (1909), O Canto da Cigarra (1910), Sombra de Fumo (1915), Alba Plena (1916), O Craveiro da Janela (1920), Avena Rústica (1927) e Rosas desta Manhã (1930). Crónicas: Gente de Palmo e Meio (1913).
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