De noite, ergue-se em flor, na tela viva,
Na fantástica tela da Memória,
A tua grande sombra merencória,
Desta saudade e dêste amor cativa!
Do que há de etéreo e de imortal deriva
A tua graça em halos de oiro e glória;
Triste da minha vida transitória,
Feita à imagem da nuvem fugitiva!
Tu és a luz que surge não sei donde
E brilha sobre as almas, um momento;
A voz que, a um rôgo meu, jamais responde!
Ah, não sei se és Quimera ou se és Verdade;
Sei que, no aflante mar do meu tormento,
Espelhas um clarão de Eternidade!
Mário Beirão in a NOITE HUMANA (1928)
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Mário Pires Gomes Beirão (1890-1965) nasceu em Beja, na Rua das Portas de Aljustrel, e faleceu em Lisboa.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, exercendo o cargo de conservador do Registo Civil de Mafra.
Como poeta, insere-se na corrente do Saudosismo, tendo sido amigo de Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, entre outros. Dessa amizade resultou a sua colaboração na revista A Águia. É aliás nessa revista que se estreia como poeta com o poema «As Queimadas» (nº4, de 15 de Janeiro de 1911).
Em 1912 publica a plaquette Sintra. Principais obras: O Último Lusíada (1913), Ausente (1915), Lusitânia (1917), Pastorais (1923), A Noite Humana (1928), Novas Estrelas (1940), Mar de Cristo (1957), O Pão da Ceia (1964). Escreveu também a obra inserida na literatura de viagens Oiro e Cinza (1946), Poesias Completas (edição organizada por António Cândido Franco e Luís Amaro, IN-CM, 1997).
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