Falho de protecções e de incentivos,
o Infante não lutava só com o mar:
- tinha também, por vezes, de lutar
com descontentamentos agressivos
e, sempre, com o trágico pavor
formado pelas lendas engenhosas
de monstros e de aguagens buliçosas
que tragavam navios com fragor !
É da parte dos grandes que mais forte
pressente a inércia, hostil e descabida,
visto que a Morte é que põe termo à Vida
e não a Vida que põe termo à Morte.
Mas ele, o Infante, sem vergar, porfia!
E, por colher da empresa mor proveito,
dá-se a moldar as almas a seu jeito
na Escola de uma nova Fildalguia.
Sob os auspícios sábios de homens doutos
na ciência cosmográfica de então,
assim vinga e progride a geração
dos marinheiros, mestres e pilotos.
Já tornam cavaleiros os que avonde
ao mar se vão por simples escudeiros.
E, um dia, de entre os vários cavaleiros,
algum se tornará para ser conde,
almirante e, das Índias, viso-rei,
como prémio do lance culminante
previsto e trabalhado pelo Infante
-criador imortal da Nova Grei.
Silva Tavares in SAGRES (1940)
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João Silva Tavares, dramaturgo, poeta e escritor, n asceu em Estremoz a 24 de Junho de 1893, faleceu a 3 de Junho de 1974.
Passou a sua infância e parte da adolescência na sua terra natal.
Aos 13 anos descobre-se poeta, tendo publicado o seu primeiro livro de versos Nuvens aos 18 anos. A sua vida literária virou-se predominantemente para a poesia, mais de quatro dezenas de obras poéticas publicadas. Tendo dedicado também parte da sua inspiração ao teatro, tendo escrito mais de nove dezenas de peças, entre dramas, comédias e farsas. Mas foi no teatro ligeiro (opereta e revista) onde melhor se encontra, pelo tom popular que empresta a quase tudo o que escreve.
Na sua vasta obra assinalamos ainda duas novelas, algumas crónicas, estudos históricos e biografias.
Referência especial à sua obra "Sagres", editada em 1940, onde encontrámos o seu lado mais sério no sentido nacionalista.Foi durante cerca de trinta anos chefe da Secção de Coordenação de Programas da Repartição dos Serviços de Produção da Emissora Nacional. Aqui desenvolveu intensa actividade, dinamizando programas ligados à poesia e ao teatro.
No seu testamento deixou como legado à Biblioteca de Estremoz mais de uma dezena de manuscritos das suas obras, um bronze, uma tela e as insígnias das condecorações com que foi distinguido. Embora haja quem não dê grande destaque à sua obra para o Fado, ele foi um grande poeta, com alma bem fadista, lembremo-nos de algumas das suas criações, que foram grande êxito para os repertórios de Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro.Para Amália Rodrigues, Céu da Minha Rua, Elogio do Xaile, Que Deus me perdoe, etc.
Para Marceneiro, A Casa da Mariquinhas, Mariquinhas 50 Anos depois e Fado da Balada.
(Alguns excertos deste artigo foram retirados do blog de Vítor Marceneiro (Lisboa no Guiness)
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