Notou a mulher um dia
Que neste mundo a belleza
De pouco, ou nada, valia
Pois não se punha na mesa;
E é a partir de então
Que a triste moda achareis
De vender o coração
Por alguns contos de reis.
Um só ente protestou,
Com ancia, cheio de ardor,
E no seu peito guardou
O culto puro do amor.
Este ser extraordinário,
Um sonhador, um pateta,
Um pobre visionário,
Sabeis quem era? - O poeta.
Ouvindo-o entoar seus threnos,
O homem disse à mulher:
- Tem aduela de menos,
Ou tem o juízo a arder!-
Volve a mulher e sorri:
-Seja isso lá como fôr,
Guarde elle só para si
A nossa parte do amor.-
E eis aqui a razão
Porque, sem nenhuns haveres,
Elle adora com paixão
A um tempo cem mulheres.
Ficaram todos os mais
Sem amor. Só elle o tem.
Não é portanto demais,
Bem vêdes, que elle ame cem.
Mas a belleza, sabeis,
Não nos fornece alimento.
Amor, sem contos de reis...
Não termina em casamento.
Paulo Cesar, in POLYCHROMIAS (Primeiros Versos) (1910)
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