Nem a linha do rio azul e fino,
nem a voz da gaivota
à areia presa,
não há chaga, nem sangue
ou pés rasgados
para bocas que emudecem de Beleza.
Do Monte Alverne aos claustros de Toledo
Só nas sombras da morte
ainda cabe
o desenho de um vulto de mistério.
Velhos mapas delidos
por cidades
apontam cemitérios e ossadas.
Não há pequena asa
que não cruze
horizontes de lendas e pecados.
Fidalgos e pastores, lírios e monstros,
passeiam em distantes alamedas.
O olhar trespassa o sol envergonhado
e do alto, ao lado, não sei onde,
Jesus assiste às multidões em pena.
Orquestras delicadas, tardes suaves,
portos à espera...
as fulgurantes setas
do ser e do não ser
anémicas desmaiam
no Sinal apagado dos poetas.
E em tormento de tédio
e de ansiedade
a palavra cansada
já não chega.
É preciso regressar e inventar
homens novos, novos santos,
novos Céus.
in INVENTÁRIO (1982)
www.bibliotequeduvalais.blogspot.com tem um exemplar de INVENTÁRIO Poemas disponível (15€), para o adquirir ou saber mais sobre a obra, deixe a intenção em comentários.
Eduardo Malta (Retrato da escritora Maria da Graça Freire, 1958)
Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian
Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian
Escritora portuguesa nascida cerca de 1918, Porto de Muge, Benavente, e falecida em 1993, em Lisboa, cidade onde realizou estudos liceais. Colaborou em publicações periódicas como Bandarra e Panorama. Tendo publicado os seus primeiros romances sob o pseudónimo de Maria da Graça Azambuja, recebeu os prémios Ricardo Malheiros para A Primeira Viagem e o Prémio Eça de Queirós para A Terra Foi-lhe Negada. A sua permanência em Angola, a partir de 1937, influi sobre uma produção romanesca de cariz realista que reflete sobre a condição existencial da mulher num mundo atravessado por preconceitos raciais e sociais.
Belíssima postagem!
ResponderEliminar