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Desde 17 de Agosto 2012

sexta-feira, 8 de março de 2013

POETA DA SEMANA 3/2013



FRANCISCO COSTA

Nasceu no dia 02/10 é carioca nascido no Rio de Janeiro
Adora escrever, vive em meio à natureza entre plantas e animais...
Seu passatempo predileto é ficar em seu Studio mexendo com artes plásticas onde pinta suas belas telas
O que mais lhe deixa apaixonado: a fragilidade da infância e da velhice.
 
COMPLETAMENTE NUAS
 
Dispo-as completamente, a todas
Mas não em minhas fantasias,
Atividade permanente,
Atestado de que estou vivo.

Dispo-as de seu atributos,
Um a um, pacientemente,
Como se as despisse das blusas,
Antevendo insonhadas paisagens
De carne e calor, sofreguidão.

Principio por retirar os sorrisos,
Fazendo-as qualquer coisa séria
Que pouco encanta se não ri.

Depois subtraio-as dos rubores,
Atestados de delitos prestes,
Em entregas desmedidas, totais.

Agora arranco a capacidade de dedicação,
A preocupação com horários,
Refeições sempre prontas e ao alcance,
Roupas impecavelmente limpas,
Ainda que para nos ornar às traições.
Tiro a preocupação com filhos, netos,
Enteados, conosco próprios,
Em afã de formigas antes da chuva.

Chegou a vez de livrá-las dos orgasmos,
Dos tremores, contorções, gemidos,
Gritos, arfares, unhas e dedos crispados,
Esculpindo a eternidade do instante.

Livro-as agora da capacidade de beijar,
Arrancando línguas, secando salivas,
Imobilizando lábios, prendendo respirações,
Deixando-as como estátuas de pedra,
Alheias e frias olhando quem passa na praça.

E desisto de continuar. São tantos os atributos
Que vida inteira curta e pequena, minguada
Para tal sem fim mister. E resolvo parar,
Deixá-las vestidas, mascaradas, disfarçadas,
Escondendo isso que não pisa, flutua;
Não anda, desliza, entre nuvens e a eternidade,
Desfilando formas, cantos, curvas, saliências
E reentrâncias de fêmeas da espécie ornando
Os dias, as horas, cada minuto, o mundo.


RITUAL DE LÁGRIMAS
(A todas as mulheres, nesse dia cheiroso)

Como homenageá-las se mais não fiz que chorar,
Ininterrupto e cotidiano, a cada uma que chegou
E, granítica e fria, partiu levando um pedaço?

Como, se me lembro de cada lágrima gasta sempre,
Ora em surdina do envergonhado, dissimulado,
Ora em pranto desbragado, assumido, mais doendo?

Como calar as noites de temporais, meu corpo na chuva,
Vergado e só, salgando poças, ocasionais correntezas,
Bueiros, com os pingos da minha alma liquefazendo-se,
Dor líquida entre trovões e relâmpagos, enxurradas?

Como, digam-me, como prestar culto às musas
Da minha dor permanente, rasgando, queimando
Em tortura de prisioneiro ansiando a morte, o fim?

Como louvá-las se não mais fizeram que cavar espaços,
Construir buracos em meu peito todo remendado?

Mas... Pronto ao ponto final, me lembro a tempo:
Se cá estou, aqui cheguei rasgando carnes, em gemidos,
Semeando hemorragias, espalhando sangue , dores.

E imagino os meus primeiros passos em mãos seguras,
As letras, matéria prima dos meus poemas, domesticadas
Por mãos macias e carinhosas: a e i o u, vovó viu a uva,
Em dedicação de parte que não se aparta porque impossível.
E a primeira namorada, de beijo rápido corrido, envergonhado,
Mal sentido nos lábios tesos, duros, nervosos, adolescentes.

E beijos outros, vida a fora, já apascentados da inexperiência,
Fazendo-se novos e diferentes em cada uma, porque diferentes.

E o primeiro corpo nu, primeiro orgasmo fora das mãos,
Uma chuva de estrelas caindo, explosão de luz, êxtase
Posto na consecução do que é finito, e por finito, grande.

E outras, outras, mais outras num rosário quase sacro
De contas perfumadas, debruadas em desejos e paixões
Acorrentando-me a corpos, olhares, dissimulações, amores.

E me vejo interdito aos versos se não por elas, matéria prima
Dos meus sorrisos, dos meus encantos transcritos no papel, na tela,
No mundo, em mim mesmo ostentando-me passionalidade escrita.

Como então, hoje, deixar de confessar que minhas lágrimas,
Nunca demais por mais que muitas, mais não foram que culto,
Ritual de amante em permanente dedicação, entrega total,
Desde o momento primeiro, quando rasguei a primeira em parto,
Até o meu momento último, além, despedida de cada uma delas?

Minha história é a história das minhas paixões.
Sem elas eu seria planta, pedra, nuvem...
Qualquer coisa, menos um homem.
 
 
OUVINDO STYLISTICS
 
Lá longe, quando meu corpo liso e forte, ostentando-se
Ausência de comedimentos, era ânsia, fome de tudo,
Deixei aqueles sorrisos distraídos, sem compromissos,
Entre beijos rápidos e a minha curiosidade adolescente,
Dormindo no desconhecimento do que me esperava.
 
Meus espelhos me enganaram, estampando imagens
Criadas pela minha imaginação vendo-me crescer
Enquanto diminuía, espalhando pedaços, nacos, cacos
Do meu próprio corpo nascido para desfazer-se em vida.
 
Foram nesgas de mim mesmo sobre balcões, em escambo
De moedas por futilidades; em esquinas comigo alheio,
Partilhando as tardes entre amigos; em escolas e cursos,
Bebendo tudo o que é só especulação e desconfiança;
Em livros, personagem coadjuvante, vivendo vidas outras;
Diante de mim mesmo perdido em mim, me vasculhando.
 
Quantas camas com pedaços meus! Em casa, hotéis, motéis,
Hospitais... Exceto no cárcere, porque de cama concretada
Na indignação e no desespero, fria, estranha, sem futuro.
 
Pedaços apaixonados, pulsando sangue e desejo, puro tesão
Do meu corpo transfigurado em outro, habitando sonhos;
Pedaços frustrados no intervalo do agora e o nunca mais;
Pedaços tristes, porque mentirosos dizendo amor e paixão
O que era só carne, hormônios ditando o comportamento;
Pedaços risíveis diante de tantas mentiras ouvidas em créditos
De veracidade estelionatando beijos e entregas radicais;
Pedaços, nesgas, partes, nacos, fragmentos, cacos...
 
Como num banho de continuado esfregaço, em volúpia:
Sabões, sabonetes, esponjas, buchas, lixas... Todo o corrosivo
Em abrasão louca reduzindo-me cada vez mais e mais e mais...
 
Até reduzir-me a simples poema, um coração aberto ao mundo
E mãos digitando nervosas os meus pedaços perdidos
.

1 comentário:

  1. PARABENS FRANCISCO BEM MERECIDA HOMENAGEM, PELA QUALIDADE DO TEU TRABALHO PELA DEDICAÇAO E ZELO POR TUDO QUE FAZ...

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