Quando eu nasci, estavam tocando a fogo
Na minha freguezia,
E o meu vizinho, que perdera ao jogo,
Cortava as veias, quando eu nascia.
Uma irmãsinha veiu comigo
Do Nada ao Mundo,
Que, se vivera, fõra um abrigo
Contra as inclemencias d'este mar profundo.
Eugénio de Castro in INTERLUNIO (1911)
www.bibliotequeduvalais.blogspot.com tem 1 exemplar disponivel de INTERLUNIO POR EUGÉNIO DE CASTRO Da Real Academia De Hespanha (1911) (17 €). Para adquirir ou saber mais sobre a obra mencione o interesse em comentários.
Eugénio de Castro, poeta e autor dramático, nascido a 4 de Março de 1869, em Coimbra, e falecido a
17 de Agosto de 1944, na mesma cidade.
Formado pela Faculdade de Letras de
Coimbra, aí viria a desempenhar funções docentes e directivas. É ainda durante
os estudos académicos que funda, em 1889, com João Menezes e Francisco Bastos, a
revista Os Insubmissos, criada com um intuito deliberado de rivalizar com a
revista académica Boémia Nova, recém-lançada por Alberto de Oliveira e António
Nobre.
Na polémica entre as duas publicações serão colocadas questões de
versificação (o problema da cesura do alexandrino) que, se não têm a ver
directamente com o Simbolismo, contribuirão para uma nova consciência da
linguagem poética, afim das premissas daquele movimento, cuja emergência é usual
datar-se de 1890, data da publicação do volume poético Oaristos de Eugénio de
Castro. Deixando para trás quatro volumes de poesia (Canções de Abril, 1884;
Jesus de Nazaré, 1885; Per Umbram, 1887; Horas Tristes, 1888) pouco
significativos na bibliografia do autor, se considerados à luz da estética de
que viria a ser porta-voz, na introdução a Oaristos, o poeta acusaria os
lugares-comuns sobre que assentava a poesia sua contemporânea, quer ao nível de
imagens, de rimas e de léxico, defendendo uma nova expressão poética, que,
reclamando a "liberdade do ritmo", o processo estilístico da aliteração, as
"rimas raras", os "raros vocábulos", e um estilo "decadente", se traduziria,
neste, como em volumes posteriores, como Horas, numa poética atenta ao valor
sugestivo e musical do significante, alheia a qualquer compromisso com a
realidade social e defensora de uma poética de "arte pela arte".
Em 1895,
Eugénio de Castro fundou a revista internacional A Arte, que, anunciando a
colaboração de autores como Paul Adam, Gabriele d'Anunzio, Maurice Barrès,
Gustave Khan, Maeterlinck, Stéphane Mallarmé, Jean Moréas, Jules Renard, J. H.
Rosny, ou Verlaine, pretendia constituir, ligando alguma poesia portuguesa
(sobretudo a do autor) à poesia europeia, um elo no movimento simbolista
internacional, com cujos representantes Eugénio de Castro mantinha, aliás,
correspondência.
A sua poesia, seja nesta primeira fase, onde a influência do
simbolismo de matriz verlainiana é muito nítida, seja em fases posteriores, de
refluxo neoclassicista (A Fonte do Sátiro e Outros Poemas, Camafeus Romanos, A
Mantilha de Medronhos, Descendo a Encosta), nunca se libertou do epíteto de
esteticista e escolar, sendo, no entanto, uma referência incontornável na
análise do processo de libertação da linguagem poética que viria a culminar com
o modernismo.
No domínio da expressão dramática, peças como Belkiss inscrevem-se
numa compreensão do fenómeno teatral próxima do teatro simbolista de
Maeterlinck, a que se seguiriam outras tentativas, de pendor classicista, como
Constança.
Obras:
Cristalizações da Morte (1884),
Canções de Abril
(1884),
Jesus de Nazareth (1885),
Per Umbram (1887),
Horas
Tristes (1888),
Oaristos (1890),
Horas
(1891),
Sylva (1894),
Interlúnio (1894)e (1911),
Belkiss (1894),
Tirésias (1895),
Sagramor (1895),
Salomé e Outros Poemas
(1896),
A Nereide de Harlém (1896),
O Rei Galaor (1897),
Saudades do Céu (1899),
Constança (1900),
Depois da Ceifa (1901),
A Sombra do Quadrante (1906),
O Anel de
Polícrates (1907),
A Fonte do Sátiro (1908),
O Cavaleiro das Mãos
Irresistíveis (1916),
Camafeus Romanos (1921), T
entação de São
Macário (1922),
Canções desta Negra Vida (1922),
Cravos de
Papel (1922),
A mantilha de Medronhos (1923),
A Caixinha das Cem
Conchas (1923),
Descendo a Encosta (1924),
Chamas duma Candeia
Velha (1925),
Éclogas (1929),
Últimos Versos (1938).