Além da janela trancada
Nada mais sobra de ti.
Pertences abandonados
Do que foste impregnados,
Em mar de lamento tocados!
De ti não há mais nada...
O teu rosto não sorri.
Serás anjo após partida,
Só carcaça carcomida,
Vives hoje outra vida,
Noutro corpo, renascida?
Neste espaço que foi teu
Ainda ninguém te esqueceu...
Há multidões de memórias,
Colecções de carinhos,
Rocambolescas histórias...
Antagónicos caminhos,
Um sem fim de lamurias!
Com céu aberto,
Alma em aperto...
Sol aos quadradinhos!
Troca comigo,
Fazes mais falta!
Arrasto viva caveira,
Próprio arqui-inimigo...
Bala na testa ressalta,
Devolvida pela trincheira.
Cede-me a tua cova,
E volto a ser anjo da guarda!
Preciso descansar os ossos,
Tu mereces vida nova!
Calço asas, visto farda,
Aponto luz para teus passos:
Vive, acaba com tanta saudade!
As larvas que me comam a mim,
E do meu corpo façam festim
No repouso da eternidade.
23-08-2014